domingo, 7 de julho de 2013

Domingo: passeio e frutos do mar




Dia de luz, Festa de Sol
E o barquinho a deslizar

No macio azul do mar

Tudo é verão, o amor se faz

Num barquinho pelo mar 
Desliza sem parar...
(Toquinho)

Eu cresci em meio a uma roda familiar em que domingo era dia de almoço caprichado. Ao crescer e me tornar responsável pelas minhas próprias refeições "caprichar" na refeição de domingo - quando eu não funciono bem - tornou-se uma missão programada. Porém, o último domingo não foi exatamente planejado. A ideia inicial era ir até uma loja afastada do centro da cidade para comprar alguns utensílios domésticos, como não tinha trem e de ônibus era mais caro, optamos por deixar para outro dia. Resolvemos então fazer um passeio de bicicleta por Bari, o que não deu certo porque todas as bicicletas tinham sido alugadas.  Planos iniciais frustrados. Passeamos pelos becos da parte antiga da cidade, com aqueles balcões, janelas, plantas e roupas penduradas que parecem cenário de filme. A cidade estava cheia de turistas. Muitas línguas se ouvem por aqui: inglês e alemão predominam. O dia estava realmente muito bonito. Passeamos por um longo trecho do lungomare (à beira mar), onde a calçada é espaçosa, o mar é próximo e há uma mureta onde se pode sentar para observar a paisagem (há bancos na calçada também). O mar  é calmo, as ondas pequenas e a água transparente.

Depois de muito caminhar, olhar e explorar as vielas da cidade antiga - onde encontramos até colunas que pareciam romanas e que foram descobertas no começo do século XIX - chegou a hora de almoçar (finalmente!).
Há alguns dias eu tinha visto um mercatto del pesce (mercado de peixe) que em se seguindo levava até um Farol, e bem na entrada do mercado tem um restaurante com um terraço, donde se pode acessar este caminho também, é só descer pelo lado oposto ao que subiu.

Pedimos o menu turístico: antepasto, primeiro prato, segundo prato, sobremesa e digestivo. Para começar os trabalhos, o antepasto: pão italiano, berinjelas grelhadas, legumes (batata, pepino e cebola) e tomate com azeite e mexilhões:







Esses mexilhões estavam realmente maravilhosos. Nunca tinha comido, mas a-do-rei! 

Nos casos de menus assim, o restaurante sempre dispõe de duas opções para o primeiro e segundo prato. O primeiro prato é, quase sempre, uma massa. Essa é uma massa grossa, quadrada, que vinha com tomate (a base da culinária italiana é o tomate), abobrinha, camarão e mexilhões (sem a casaca). A outra opção não experimentei, era espaguete com legumes. Mas esse aqui, posso dizer sem pestanejar que estava muito gostoso!


Para o segundo, pedimos coisas diferentes: eu pedi polvo grelhado (outra coisa que nunca tinha comido, mas gostei muito), que estava bem temperado - com limão - fresco e bem macio. O outro prato era um misto com camarões, lula, peixe, tudo empanado e frito. Estava muito bonito e gostoso.



E para finalizar a "comilança" (depois disso só mais caminhada pela cidade, rs, para fazer a digestão como dizia minha tia) uma sobremesa e um digestivo. A sobremesa pode parecer sorvete, mas não é. Eles chamam por aqui de granitta, que são raspas de gelo com sabor de fruta. O restaurante só oferecia, nesse menu, a granitta de limão. Para o sol que fazia e o calor, foi uma ótima pedida. O digestivo é geralmente alcoólico, esse era um limoncello, bebida de limão; ou se pede um café. Eu fiquei com o café.


E encerramos bem o almoço, apesar do plano inicial para o passeio não ter dado certo, depois disso continuamos sem guia e sem mapa pelas ruelas da cidade antiga - chamada de Bari Vecchia - e foi muito bonito e divertido. Un bel giorno, si può dire! (Um belo dia, pode-se dizer!).


sábado, 6 de julho de 2013

Antepasto

Antepastos, ou aperitivos, são uma forma de não ficar faminto até o jantar chegar, ou mesmo de não comer demais o prato principal - em alguns casos. Em geral um almoço ou jantar segue-se da seguinte maneira: antepasto, primeiro prato (massa), segundo prato (carne -frango ou boi - ou peixe e acompanhamento), dolce (sobremesa), café ou digestivo (um licor ou algo parecido). 

No meu primeiro jantar em Bari - que, como disse no post anterior foi depois de uma longuíssima viagem de quase vinte horas! - resolvi experimentar um antepasto de queijo com temperos e molho de vinho tinto - para fugir da rotineira bruschetta. Apenas para lembrar, estava maravilhoso. 


Nas outras experiências que tive num jantar em que requisitei um antepasto não era muita coisa, nada exagerado, algumas berinjelas, tomates, queijo e pimentões, ou uma bruschetta (que é uma fatia de pão com tomate e azeite). E basta così!

Isso até eu conhecer a Pizzeria do Mike. Foi uma noite muito agradável e muito emocionante. Um noite de aventuras, eu diria. 

Com a Copa das Confederações acontecendo no Brasil e eu que gosto muito de futebol queria assistir aos jogos das semifinais, queria ver como era o "jeito italiano" de torcer para a Azzurra, só a título de comparação, sabe?! Com essa intenção encontramos a Pizzeria do Mike, eu sei que o nome não parece lá muito italiano, mas o ambiente e a comida, ah, sim veramente italiano. A ordem natural da ocasião seria comer pizza, não é?! Pois apesar de as pizzas terem aparência realmente ótimas arriscamos a sugestão do dono da casa, que foi muito atencioso conosco. As pizzas ficam para uma próxima vez, oportunidades não irão faltar estou certa.

Pedimos então o antepasto e ficamos de decidir - antes da sugestão do dono - o que se seguiria. Começaram a chegar os antepastos. Muitos deles, tantos que as fotos nem conseguem dar conta. (Ah, e porque também estávamos envolvidos em assistir ao jogo entre Itália e Espanha). Essa é a mesa já depois de alguns aperitivos:




Primeiro vieram petiscos tradicionais: pimentão amarelo com azeite; pimentão verde assado; azeitonas; tomates secos; faggioli (feijão branco) com cebola;  frittellini (massa de pizza frita); batata frita; pão italiano; polenta frita. Quando já estávamos bem satisfeitos (e era só o começo da refeição!), chegaram ainda: omelete; misto de conserva (com cebola, pimentão, azeitona, cenoura); lasagna;  focaccia barese* (com tomate e azeite) e burrata (queijo de leite de búfala e/ou vaca). 

 *Aliás, a Focaccia merece um post à parte. Um clássico!



Apesar do exagero não preciso nem dizer o quanto tudo estava delicioso. E mesmo com tudo isso conseguimos comer um prato que - felizmente! - era só carne, sem contorno (como costumam chamar por aqui o acompanhamento do segundo prato). Sim, porque depois de tudo isso não tinha como passar por um prato de massa antes da carne, ou era um ou outro.

Pedimos braciola (carne de boi enrolada com molho de tomate) e salmão. Eu ia pedir o salmão grelhado mesmo, mas o dono me sugeriu cozido temperado com limão. Aceitei a sugestão e não me arrependi., o cheiro estava delicioso e o salmão fresco muito macio e suculento. 



E para terminar - a refeição, não o post ainda, já que o jogo foi para a prorrogação e pênaltis (onde, infelizmente, a Itália perdeu!) um gelatto, um sorvete de sobremesa. Sorvete de nocciola con panna (avelã com creme).

Em meio a toda essa farra gastronômica o jogo acontecia numa enorme tevê bem diante de nós. O lugar era bem acolhedor. Quando chegamos fomos muito bem recebidos, e já tínhamos reservado uma mesa para assistir ao jogo. Ao lado tinham uma mesa com muitos adolescentes que não estavam com a menor disposição para torcer pela Azzurra. Enfim, ganhamos a simpatia dos donos do lugar também aí, o Brasil já estava classificado e nós fomos lá torcer para a Itália ser nossa rival. Um dos donos - que servia as mesas, o outro, que me sugeriu o salmão cozido com limão era  mais velho e ficava no caixa - pendurou uma enorme bandeira da Itália em um móvel do salão e uma bandeirinha da Espanha para não desagradar outros clientes possíveis torcedores da Fúria, e ainda uma foto de um senhor que, acreditamos, seja o pai deles - dos donos, que pareciam irmãos.

Em meio ao jogo surge no salão um funcionário da cozinha que arranca e esconde a bandeirinha da Espanha e ainda faz uma cara de "como assim isso está aqui?". Enfim, o jogo seguia, mais um cliente chegou, pediu duas pizzas - o que deixou um dos donos muito contente, ele disse que quase ninguém faz isso - e disse que ia sair um instante para fumar. Coisa comum, já que é proibido fumar em lugares fechados.


E de repente o outro dono, o mais velho que ficava no caixa, surge dizendo que o cliente estava fugindo. 

A partida estava em zero a zero, foi para a prorrogação, a Itália ataca, quer revidar a final da Euro, e o cliente que tinha saído para fumar foi embora sem pagar a conta. Um dos donos vai atrás, o cliente volta, diz que não tem como pagar, fica uma discussão, chama-se a polícia ou não? Um outro cliente - que parecia amigo dos donos, um homem magro, meio careca, bem vestido levanta-se irritado e diz que vai resolver a situação. Ele sai com o cliente que não quis pagar, eles vão até o outro lado da rua (e o jogo igualmente tenso na televisão), e o cliente-amigo volta dizendo para chamar a polícia. Juro que pensei que ele fosse mafioso! Me senti num daqueles filmes à la "poderoso chefão". Foi muito estranha a situação toda, mas no final foi divertido. Quando pagamos a conta eles disseram que foi a segunda vez que o mesmo cliente quis sair sem pagar. E ainda não deixou os donos assistirem ao jogo, tão apaixonados que se mostraram naquele dia. Elogiaram muito a seleção brasileira, disseram que eu parecia brasileira, que meu sorriso demonstrava isso, e falaram do Romário. É, se a Itália tivesse ido para final contra o Brasil talvez eu tivesse voltado lá no domingo, mas...o importante é que o jantar foi ótimo, e ficou uma história divertida para contar.